quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Ou VAI ou RACHA

Quando eu tinha 17 anos eu tive que escolher uma profissão para o resto da minha vida TODA. O que eu queria mesmo era comprar uma bicicleta e descer até a praia mais ao sul do Brasil. De lá eu faria todo o litoral brasileiro de bike. Eu pensei em todos os obstáculos. Eu partiria em fevereiro depois de completar 18 anos e dos resultados de todas as provas vestibulares que diriam que eu não seria aprovada em nada. Eu vi no Google Earth os caminhos que eu teria que seguir e pensei também em como contar para meus pais. Um bilhete simples dizendo “Mãe, Pai, fui viajar e estou bem. Amo vocês” bastaria.

Entretanto eu me dei conta que chegaria uma hora que o litoral brasileiro acabaria. O que eu faria depois? Eu podia continuar a fazer o litoral de toda a América. Mas e depois? Essa frase me assustou mais do que a possibilidade do litoral acabar comigo antes de eu terminar minha jornada.

Aliado a isso eu descobri, por email, que eu fui aprovada em Publicidade na Escola Superior de Propaganda e Marketing. Eu aceitei esse casamento porque era mais certo casar do que comprar uma bicicleta.

No meu primeiro semestre acadêmico eu queria estar no terceiro semestre. As matérias eram mais legais e eu achava que eu gostaria mais do curso se eu estivesse em outro semestre. Na verdade eu queria estudar cinema, grandes pensadores a fundo, eu queria criar anúncios, participar de concursos. Eu queria tudo e sentia que a minha faculdade não podia me dar nada.

No segundo semestre eu queria parar tudo. Eu era o peixe fora a água fria, a águia fora dos céus, a onça fora da selva. Pensei em desistir de Publicidade e fazer Direito.

No semestre seguinte eu parei tudo e fiz Errado. Durante seis longos meses e uns dias eu vivi minha vida errada. Fiz um monte de coisas erradas todos os dias. Mas não pense que aquilo era errado para mim, podia ser errado para os outros, para mim era algo que fazia sentido e era necessário. Afinal eu precisava daquilo para ser quem eu sou e quem eu serei. E com certeza aquilo foi a coisa mais certa que eu já fiz. Sabe, tem uma hora na vida que é preciso dizer “somos jovens, como jovens cometemos erros, mas são erros de jovens” – eu aprendi isso com o meu irmão mais velho.

E foi esse intercâmbio de seis meses que mudou drasticamente a minha vida, embora eu ainda não tenha percebido. Não que eu não saiba que mudou, mas é que toda a mudança causada ainda não gerou todas as suas conseqüências, que é o que pode ser percebido por alguém.

Mas como tudo na vida, a vida errada também tem um ponto final. Mas diferente de tantas outras coisas na vida, a vida errada precisa ter um ponto final para ser vida e para ser errada. Pois uma vida errada eterna primeiro que não é vida, é desperdício de sinapses. Segundo que sem um ponto final definido o erro não acontece em sua forma mais livre e verdadeiro. Sempre vai ter alguém que vai tentar acertar ou pelo menos endireitar as coisas para não sofrer as conseqüências, ou pelo menos para ter certeza de algum futuro. Ninguém tem coragem o suficiente de optar e bancar uma vida completamente errada, pois sempre existe o amanhã. E a idéia de futuro acaba com o conceito de errado. Só a possibilidade de algo ser para sempre já faz uma pessoa mudar as coisas no presente e isso para tudo não só para o errado. Por exemplo, quantas pessoas não surtam por saber que o casamento será até que a morte os separe? Por isso nós inventamos o divórcio para mudar essa coisas eternas. Outro exemplo foi o que aconteceu comigo quando eu tinha 17 anos. Como eu poderia escolher uma profissão pelo resto da minha vida TODA? Como eu poderia pedalar para sempre pelo litoral? Mas, para a minha sorte, não foi isso que aconteceu no meu intercâmbio. Eu sempre soube que iria voltar em julho para a minha vida certinha. Logo eu poderia ser errante e aproveitar ao máximo todos os dias e momentos.

O que eu quero dizer é que é preciso saber que sua vida vai voltar a ser ao que era antes no dia x do mês tal para aproveitar o máximo de cada dia e o máximo da vida e de suas sinapses não desperdiçadas e que não dá para aproveitar esses máximos se a vida for certinha. E quanto mais próximo do fim mais se aproveita e mais se erra e a impressão que fica é que não se aproveitou o suficiente, que era possível errar mais e viver mais – é uma sensação muito louca e tudo parece que não é real, mas tudo é tão real quanto o nascer do Sol.

Porém é aí, ou melhor lá em cima, que mora o maior erro/acerto dos errantes. Quem se propõe a viver uma vida errada por um período nunca mais vai poder voltar para vida que tinha antes. Dali para frente a vida pode até ser dessas certas, mas não será a mesma jamais.

E foi assim que eu voltei para o meu terceiro semestre acadêmico, não sendo a mesma. Eu vi uma faculdade completamente diferente da que eu deixei, mas que na verdade era a mesma. Eu me apaixonei por publicidade e marketing e todas as infinitas possibilidades de vida que surgem a partir desta união intrínseca.

Hoje eu começo o quarto semestre e preciso escolher Optativas – que não são opções minhas – que determinará qual sub-área eu vou trabalhar o resto da minha vida TODA. Eu tenho três alternativas – infinitas possibilidades se resumem a três e apenas três, talvez três e meio, mas essencialmente três possibilidades, mas que eu vou transformar em cinco, talvez quatro e meio ou essencialmente em quatro alternativas.

  • Alternativa número um: Criação – o estereótipo do publicitário.
  • Alternativa número dois: Marketing – o estereótipo negativo do publicitário.
  • Alternativa número três: Comunicação Integrada – ninguém sabe direito o que é mas todo mundo sabe que não é Criação e nem é Marketing.
  • Alternativa número quatro: Todas as anteriores.
  • Alternativa número cinco: Nenhuma das Anteriores.

Qual eu vou escolher? Sinceramente eu não sei, acho que gosto de deixar as portas abertas até o ultimo momento. Mas o que eu quero mesmo é fazer tudo. Conhecer tudo e não só uma parte das minhas infinitas possibilidades de vida. Mas, comicamente, neste mundo de loucos cheio de gente desesperada tudo é igual a nada.