quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Roubando a idéia de um amigo

Eu me dei conta que a minha bicicleta era a única que não tinha nome. Assim, como meu carro que não tem um nome. Há alguns anos minha irmã deu o nome do carro dela de Scadufax (o Shadowfax). O carro dela, um Clio, não merecia esse nome, ele não era rápido, mas era guerreiro. Sobreviveu a muitas batidas, a panes no motor e no fim acho que foi vendido para o ferro velho. Ninguém em sã consciência compraria esse carro para usar como carro, ele só valia desmontado. Não imagino o Scadufax acabando em um ferro velho ou em um matadouro, é simplesmente surreal.
O primeiro carro da minha outra Irma (eu tenho 3 irmãs, logo a história é longa) se chamava Gezepel, porque a placa era GZP. Era um palio verde. Esse era rápido! Mas fundiu o motor de tanto ser acelerado. Eu lembro que a Gezepel tinha um cheiro característico. A gente morava perto do rio Tietê na época e por isso minha Irmã usava muitos cheirinhos para disfarçar o odor. Não era fedido, o cheirinho realmente dava um jeito. Até hoje todos os cheirinhos de carro me lembram a Gezepel, e eu me lembro daquele carro com carinho.
O primeiro carro da minha terceira e ultima Irma se chamava Batidão. Era um Celta prata. Eu sempre fico pensando como uma civilização tão complexa e tão rica se transforma em um carro pé de boi que só tem uma luz de ré? Pelo menos tinha. O Celta tinha o nome que merecia, ele era mesmo Batidão. Agüentou muitas porradas em sua vida, algumas graças a mim. Foi nele que aprendi a dirigir e foi nele que tive minha primeira batida.
E eu chego ao meu primeiro carro. Era um Palio Prata. Ele durou 6 meses comigo. Depois eu fui viajar por 6 meses e ele substituiu o lugar do Batidão e o Batidão foi vendido. Essa minha irmã nunca deu um nome para ele, ela vendeu o carro e guardou o dinheiro. E quando eu voltei de viagem eu ganhei o meu carro atual. Um Gol prata muito foda! Eu gosto muito dele, o motor é sensacional, ele corre, ele não bebe muito, ele me salva. Ele pode estar ralado, mas nunca bati ele para valer. Hoje ele me salvou de mais uma. Antes de eu contar essa história, uma prévia de sonhos, na minha família sonhos são importantes. Essa semana eu sonhei que eu andava com o elevador do Willie Wonka, caia dele e quebrava a perna, eu acordei e minha perna estava dormindo. No dia seguinte eu sonhei que eu era atropelada por um utilitário. Ele me acertou e não me viu, então ele me arrastou pela rua até o farol.
Hoje eu estava na Rodovia Castello Branco em direção a São Paulo pela pista lateral. Para quem não conhece a Castello é uma rodovia que parte do interior de São Paulo em direção a capital. E nas proximidades de São Paulo existe duas pistas, a lateral e a expressa. A lateral tem velocidade de 120km/h e a expressa 100km/h. Crazy, I know! Também nas proximidades da capital paulista existe o Rodoanel, que une ou deveria unir as principais rodovias que partem de São Paulo, com isso evita que caminhões cruzem a cidade só para mudar de rodovia. O plano é bom, mas ainda não está completo, a rodovia que vai para Minas e para Rio ainda não estão ligadas no Rodoanel, ou seja, o trafego de caminhões na cidade é grande. Enfim, uma das saídas do rodoanel é na Castello, na faixa lateral. Entretanto não é possível pegar a marginal Tiete (uma via muito importante que vai até as rodovias que vão para Rio e Minas) da pista lateral da Castello, logo todos os caminhões trocam de pista em um determinado ponto que tem uma passagem. A troca de pistas é muito mal feita, pelo lado esquerdo onde todos os carros estão muito mais rápidos que os caminhões que cruzam. Por isso os caminhões dão seta e entram com cuidado há pelo menos 500m antes.
Hoje eu estava na pista lateral na faixa da esquerda. A Castello estava vazia, nem um caminhão parecia querer entrar nesse acesso. Eis que em cima do acesso um caminhão que estava na outra faixa resolve entrar no acesso sem dar seta, sem freiar e fora do tempo. Acontece que entre o acesso e o caminhão estava eu com o meu carrinho. Neste momento, acho que meu carro ganhou vida sozinho. Ele virou para esquerda, acelerou (ultrapassar o caminhão era mais fácil do que deixá-lo passar, enquanto na frente tinha só a cabine atrás tinha toda a carroceria e eu já estava mais rápida que o caminhão), ultrapassou o caminhão, passou por cima da faixa zebrada e voltou para pista lateral. Tudo isso a 120 por hora, durou 5 segundos no máximo. Foi muito rápido, muito reflexo e meu carrinho me salvou. Agora eis a questão, esse carro merece um nome ou não? Vou batizá-lo qualquer hora.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

A Saga das Bicicletas

Milão é uma cidade propicia para andar de bicicleta. Ela é pequena e plana, é possível cruzar a cidade inteira com 1 hora de pedalada sem enfrentar nenhuma ladeira. O único problema é a parte histórica da cidade que é asfaltada com pedras. As isso não foi um problema para não termos uma bici. (em italiano leia bitchi)
Apresentando os personagens da saga: eu, Paulinha, Cléo, Ana Luísa, Lisa, Giu, Du e Bruno do lado do Brasil e Fred, Vasco Moreno, Vasco Loiro, Ana e Mariana do lado de Portugal.
A história:
Lá pelo fim de abril a Paulinha começou a falar que queria uma bicicleta, queria porque queria uma bici. Não demos muita atenção e ela dizia que encontraria uns romenos que vendessem bici “usada”.
Nesse mesmo período descobri que o Vasco Moreno tinha uma bici. Perguntei onde ele tinha conseguido. Ele me disse que a tinha desde pequeno e que a mandara vir de Portugal, porque era de estimação.
Fiquei decepcionada, a Paulinha mais ainda. Mas foi em uma noite, voltando para casa com o Vasco Loiro que a possibilidade apareceu.
O Vasco Loiro era dono da Golden, uma bicicleta que sempre oferecia carona, principalmente para mulheres.
E ele sabia onde comprar. Eu e a Paulinha combinamos um ponto de encontro no sábado de manha. Ele não apareceu, estava de ressaca.
Eu e a Paulinha fomos sozinhas até a Piazza Cantore, o local das bicicletas. Chegando lá encontramos um parquinho de crianças sem crianças. Vimos senhores mal encarados, bicicletas e uns homens muito mal encarados. Começamos a olhar as bicicletas. Eu encontrei a minha em 10 minutos. Encostei nela.
- Voui? (quer?)
- Quanto costa?
- 20
- 15
- Va bene. Prendi. È tua.
Paguei 15 euros e já tinha a minha bike em mãos. A Paulinha ficou escolhendo a dela. Ela queria uma que ela pudesse dar carona para alguém. Finalmente ela achou uma e começou a negociar. Ela conseguiu por 25 euros. Pegamos as bikes e fomos embora.
Na primeira pedalada a correia da Paulinha solta. Tudo bem, eu conserto. A Paulinha tenta de novo e a correia volta a se soltar.
- Dê, eu vou reclamar!
Louca, né? Obvio que não iríamos encontrar o vendedor que vendeu uma bike quebrada. Mas não é que o homem estava lá.
Ele viu a Paulinha se aproximando e discretamente começou a se afastar, saindo da pracinha. A Paulinha pediu para eu segurar a bici dela que ela ia atrás dele e ela foi. Fiquei sozinha na praça com duas bikes. Um homem me aborda. Digo que estou vendendo a bici da minha amiga, por 30 euros. Ele me diz que é demais e que fazia uma troca. A Paulinha volta ofegante (ela correu atrás do vendedor que saiu correndo quando ela o chamou). Ela aceita a troca, mas antes ela quer ver a bici, que não era muito bonita. E como gato escaldado tem medo de água fria ela pede para testar a bici.
Na pequena volta que ela dá eu fico conversando com o rapaz e com outros dois senhores. De repente o rapaz da bici dá meia volta e vai embora. Como assim vai embora? Simplesmente vai embora mesmo. Eu grito para ele esperar que minha amiga voltaria. Mas um dos senhores me diz para eu andare via. Eu olho para trás e vejo uma viatura de polícia e dois policiais com os cassetetes nas mãos.
Como apanhar nunca foi o meu forte eu abandono a bicicleta quebrada, dou meia volta e saio pedalando tranquilamente com minha bicicleta. Passo os policiais e chamo a Paulinha tranquilamente.
- Paulinha, vamos embora.
- Não Denise! Eu não vou dar o gato. Vou pagar o moço.
- Vamos embora!
Continuei pedalando tranquilamente na direção oposta. Dois segundos depois eu escuto:
- Denise, corre! Corre, Denise! Rápido!
Olho para trás e vejo uma Paulinha apavorada. Pedalamos sem parar até a casa dela. Trocamos de roupa e decidimos pintar nossas bicicletas caso alguém nos reconhecessem ou tivessem nos seguido.
Ela me contou que quando ela chegou na praça não tinha mais viva alma ou bicicleta. Só sobrou a bici quebrada que os dois policiais estavam confiscando. Bem vindo a máfia italiana de bicicletas!
Domingo seguinte: Pic-nic no parque! Foi toda a galerinha. Todos ficaram fascinados com nossa historia e queriam comprar bikes. Segunda-feira eu comprei a tinta e no final de semana seguinte eu pintei minha bike de prata. nesse mesmo final de semana a Liza, a Ana Luisa e o Fred compraram suas bikes.
Dalí em diante foi só alegria. Sempre saímos de bike. Quem não tinha pegava carona.
Tudo que é bom tem um fim. Primeira desgraça: a bike do Fred quebra na roda de trás. Segunda desgraça: o pneu da Liza fura. Terceira desgraça: a bicicleta do Vasco Moreno quebra no freio. Quarta desgraça: deixo minha bike na casa do Vasco Loiro e ela é roubada.
Game Over! A Paulinha vende a dela para a Ana Portuguesa e vai embora de Milão. A Liza vende a dela com o pneu furado para a Mariana e também vai embora. E a Ana Luisa vende a dela, a Alice, para o Fred. A Mariana conserta o pneu. Mas um dia ela deixou a bike presa na frente de casa. Quando ela foi pegar a bici já era tarde. Alguém estourou o cadeado e roubou a bike dela que era da Liza.
Eu fui viajar por duas semanas por Espanha e Portugal. Quando eu volto o Vasco Loiro me liga e me diz que minha bici voltou.
Voltou? É! Voltou! Sentiu falta da dona e resolveu voltar para casa. Não me pergunte como ou por quê. Esse mistério não resolvi. Talvez alguém sentiu o peso na consciência, ou então o ladrão foi embora e resolveu devolver, ou então foi algum amigo do Vasco Loiro. Vai saber... Só sei que voltou!
No entanto as desgraças continuaram. Enquanto eu estava viajando o Vasco Loiro atropelou um taxi com a Golden. Ele estava bêbedo e muito rápido e não viu o taxi parado. Conclusão: o taxi ficou sem o retrovisor, o Vasco Loiro sem a Golden e o policial sem os dados verdadeiros do rapaz.
Continuação das desgraças: O Vasco Moreno e a Ana estavam voltando para casa na bike dela. No meio do caminho a bike quebra no meio e eles voam. A bicicleta quebrou literalmente no meio! No cano, sabe? Conclusão: a Ana ficou sem a bike e o Vasco Moreno sem o tampão do dedão do pé e sem uma parte da pele do queixo.
Sobreviventes: minha bike que foi e voltou e a Alice. A minha sobreviveu até o meu ultimo dia em Milão. Estava voltando de uma festa muito rápido porque eu ia perder o avião quando minha bike quebrou. Tentei arrumar a correia, mas o freio também quebrou. Abandonei minha bike e peguei o primeiro taxi que apareceu. Cheguei em casa a tempo de pegar minhas coisas e seguir viagem. Não sei que fim deu a Alice.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Saudades de mim

Não fique assim não. Eu sei que você está com saudades deste blog, eu também estou. Mas sabe como é, faculdade, trabalho, banho e dormir consumiram todo o meu tempo e não consegui escrever. Na verdade, quando pude escrever estava escrevendo um livro, não sei nem se vai ficar bom, mas o que vale é o esforço.
Eu tinha pensando em uma idéia milionária para escrever, era mais ou menos assim: eu ia criar um mundo bruxo e ia contar a historia de um bruxinho órfão que teve os pais assassinados por um bruxo das trevas. Mas eu comentei essa idéia em um pub na escócia e alguém escreveu antes. Droga! Ai eu tive outra brilhante idéia, um romance entre um vampiro e uma garota adolescente, bolei até alguns lobisomens gostosos para apimentar as coisas. Foi quando fiz meu mochilão pela America do Norte eu troquei uma idéia com uma mórmon para tentar descobrir se tinha alguma barreira religiosa a minha historia e pimba! Minha idéia foi roubada de novo. Aí eu resolvi sair do mundo fantástico, vir para o mundo real, sabe? Por isso eu não conto para ninguém o que estou escrevendo, mas já adianto que é uma historia de uma menina, mulher, senhora. Algo mais não digo.
Mas, porem, entretanto e todavia, esse post ficará muito chato sem uma historia de verdade. Por isso eu prometo que o próximo post será um texto que escrevi há mais de um ano atrás (eu sei que é redundância, mas eu sou uma pessoa que peca por excesso) contanto a saga de uma menina, mulher, senhora e sua bicicleta prateada. Eu gosto muito deste texto e dessa historia, já aperta o meu coração só de lembrar. Juro que vocês não vão se arrepender. Não percam.

(será que desta vez eu consigo mais de 17 visitas?)