terça-feira, 21 de dezembro de 2010

A Saga das Bicicletas

Milão é uma cidade propicia para andar de bicicleta. Ela é pequena e plana, é possível cruzar a cidade inteira com 1 hora de pedalada sem enfrentar nenhuma ladeira. O único problema é a parte histórica da cidade que é asfaltada com pedras. As isso não foi um problema para não termos uma bici. (em italiano leia bitchi)
Apresentando os personagens da saga: eu, Paulinha, Cléo, Ana Luísa, Lisa, Giu, Du e Bruno do lado do Brasil e Fred, Vasco Moreno, Vasco Loiro, Ana e Mariana do lado de Portugal.
A história:
Lá pelo fim de abril a Paulinha começou a falar que queria uma bicicleta, queria porque queria uma bici. Não demos muita atenção e ela dizia que encontraria uns romenos que vendessem bici “usada”.
Nesse mesmo período descobri que o Vasco Moreno tinha uma bici. Perguntei onde ele tinha conseguido. Ele me disse que a tinha desde pequeno e que a mandara vir de Portugal, porque era de estimação.
Fiquei decepcionada, a Paulinha mais ainda. Mas foi em uma noite, voltando para casa com o Vasco Loiro que a possibilidade apareceu.
O Vasco Loiro era dono da Golden, uma bicicleta que sempre oferecia carona, principalmente para mulheres.
E ele sabia onde comprar. Eu e a Paulinha combinamos um ponto de encontro no sábado de manha. Ele não apareceu, estava de ressaca.
Eu e a Paulinha fomos sozinhas até a Piazza Cantore, o local das bicicletas. Chegando lá encontramos um parquinho de crianças sem crianças. Vimos senhores mal encarados, bicicletas e uns homens muito mal encarados. Começamos a olhar as bicicletas. Eu encontrei a minha em 10 minutos. Encostei nela.
- Voui? (quer?)
- Quanto costa?
- 20
- 15
- Va bene. Prendi. È tua.
Paguei 15 euros e já tinha a minha bike em mãos. A Paulinha ficou escolhendo a dela. Ela queria uma que ela pudesse dar carona para alguém. Finalmente ela achou uma e começou a negociar. Ela conseguiu por 25 euros. Pegamos as bikes e fomos embora.
Na primeira pedalada a correia da Paulinha solta. Tudo bem, eu conserto. A Paulinha tenta de novo e a correia volta a se soltar.
- Dê, eu vou reclamar!
Louca, né? Obvio que não iríamos encontrar o vendedor que vendeu uma bike quebrada. Mas não é que o homem estava lá.
Ele viu a Paulinha se aproximando e discretamente começou a se afastar, saindo da pracinha. A Paulinha pediu para eu segurar a bici dela que ela ia atrás dele e ela foi. Fiquei sozinha na praça com duas bikes. Um homem me aborda. Digo que estou vendendo a bici da minha amiga, por 30 euros. Ele me diz que é demais e que fazia uma troca. A Paulinha volta ofegante (ela correu atrás do vendedor que saiu correndo quando ela o chamou). Ela aceita a troca, mas antes ela quer ver a bici, que não era muito bonita. E como gato escaldado tem medo de água fria ela pede para testar a bici.
Na pequena volta que ela dá eu fico conversando com o rapaz e com outros dois senhores. De repente o rapaz da bici dá meia volta e vai embora. Como assim vai embora? Simplesmente vai embora mesmo. Eu grito para ele esperar que minha amiga voltaria. Mas um dos senhores me diz para eu andare via. Eu olho para trás e vejo uma viatura de polícia e dois policiais com os cassetetes nas mãos.
Como apanhar nunca foi o meu forte eu abandono a bicicleta quebrada, dou meia volta e saio pedalando tranquilamente com minha bicicleta. Passo os policiais e chamo a Paulinha tranquilamente.
- Paulinha, vamos embora.
- Não Denise! Eu não vou dar o gato. Vou pagar o moço.
- Vamos embora!
Continuei pedalando tranquilamente na direção oposta. Dois segundos depois eu escuto:
- Denise, corre! Corre, Denise! Rápido!
Olho para trás e vejo uma Paulinha apavorada. Pedalamos sem parar até a casa dela. Trocamos de roupa e decidimos pintar nossas bicicletas caso alguém nos reconhecessem ou tivessem nos seguido.
Ela me contou que quando ela chegou na praça não tinha mais viva alma ou bicicleta. Só sobrou a bici quebrada que os dois policiais estavam confiscando. Bem vindo a máfia italiana de bicicletas!
Domingo seguinte: Pic-nic no parque! Foi toda a galerinha. Todos ficaram fascinados com nossa historia e queriam comprar bikes. Segunda-feira eu comprei a tinta e no final de semana seguinte eu pintei minha bike de prata. nesse mesmo final de semana a Liza, a Ana Luisa e o Fred compraram suas bikes.
Dalí em diante foi só alegria. Sempre saímos de bike. Quem não tinha pegava carona.
Tudo que é bom tem um fim. Primeira desgraça: a bike do Fred quebra na roda de trás. Segunda desgraça: o pneu da Liza fura. Terceira desgraça: a bicicleta do Vasco Moreno quebra no freio. Quarta desgraça: deixo minha bike na casa do Vasco Loiro e ela é roubada.
Game Over! A Paulinha vende a dela para a Ana Portuguesa e vai embora de Milão. A Liza vende a dela com o pneu furado para a Mariana e também vai embora. E a Ana Luisa vende a dela, a Alice, para o Fred. A Mariana conserta o pneu. Mas um dia ela deixou a bike presa na frente de casa. Quando ela foi pegar a bici já era tarde. Alguém estourou o cadeado e roubou a bike dela que era da Liza.
Eu fui viajar por duas semanas por Espanha e Portugal. Quando eu volto o Vasco Loiro me liga e me diz que minha bici voltou.
Voltou? É! Voltou! Sentiu falta da dona e resolveu voltar para casa. Não me pergunte como ou por quê. Esse mistério não resolvi. Talvez alguém sentiu o peso na consciência, ou então o ladrão foi embora e resolveu devolver, ou então foi algum amigo do Vasco Loiro. Vai saber... Só sei que voltou!
No entanto as desgraças continuaram. Enquanto eu estava viajando o Vasco Loiro atropelou um taxi com a Golden. Ele estava bêbedo e muito rápido e não viu o taxi parado. Conclusão: o taxi ficou sem o retrovisor, o Vasco Loiro sem a Golden e o policial sem os dados verdadeiros do rapaz.
Continuação das desgraças: O Vasco Moreno e a Ana estavam voltando para casa na bike dela. No meio do caminho a bike quebra no meio e eles voam. A bicicleta quebrou literalmente no meio! No cano, sabe? Conclusão: a Ana ficou sem a bike e o Vasco Moreno sem o tampão do dedão do pé e sem uma parte da pele do queixo.
Sobreviventes: minha bike que foi e voltou e a Alice. A minha sobreviveu até o meu ultimo dia em Milão. Estava voltando de uma festa muito rápido porque eu ia perder o avião quando minha bike quebrou. Tentei arrumar a correia, mas o freio também quebrou. Abandonei minha bike e peguei o primeiro taxi que apareceu. Cheguei em casa a tempo de pegar minhas coisas e seguir viagem. Não sei que fim deu a Alice.

4 comentários:

  1. Depois da morte da Gold eu ainda comprei outra bicicleta que se chamava Anastacia (Anastacia era uma das irmãs da cinderella). Mais tarde eu re-baptizei a Anastacia de "Shadowfax" (o cavalo do Gandalf no Senhor dos anéis), porque ela se portou muito bem e nunca me deixou mal.

    Vasco Loiro

    ResponderExcluir
  2. A Alice ficou arrumada no pátio do nossa casa com um pneu furado! Hoje não faço ideia de onde possa estar..
    Beijinho e parabéns pelo texto!

    ResponderExcluir
  3. Vasco Loiro, A Shadowfax era anastacia? Aquela bike sempre foi um homem! Que absurdo!
    obs: no tradução brasileira o cavalo se chama Scadufax e eu sempre li Scadufex, mas faz muito mais sentido Shadowfax.

    Fred, acredito que a Alice tenha voltado para o comercio ilegal de bikes, que sempre foi o lugar dela.

    ResponderExcluir